Bartleby & Cia.
O segundo round é um texto, ESTE, que o Rui Matoso publicou no seu blog TVedras Zine alguns dias após a apresentação do espectáculo. Apresento a seguir, à boa maneira das punchlines jornalísticas (defeito profissional?) as minhas passagens “favoritas”, convidando o leitor a visitar o texto integral e respectivos comentários; é nestes, na verdade, que melhor se revelam os sintomas a que fiz referência no texto anterior.
1
O espectáculo/acontecimento é sempre resultado das circunstâncias e dos seus protagonistas, é algo da categoria dos possíveis, pois podia ser sempre de outra maneira…
2
Estamos nos antípodas da produção teatral seguindo cânones já estabelecidos: texto, actores, palco à italiana como lugar simbólico de poder, construção de sentidos… Residência (Artística) visou a criação de um hetero-espaço, de uma zona temporária autónoma, cujas regras de funcionamento se baseiam em listas de procedimentos instituídos pelo próprio encenador (Dogma ’05, Terceira Via™), em conjugação com as regras definidas para este “espectáculo-tese”: ‘um espaço onde se habita temporariamente, a angústia de ter que preencher esse espaço com momentos significativos, a vontade de não fazer nada, o síndrome de Bartleby aplicado à vida (não à arte), a preguiça como novo avant-garde’.
3
…há uma dificuldade interessante e a meu ver bem resolvida, que resulta da entropia provocada pelo excesso de informação em simultâneo em vários canais, e com o movimento caótico dos intérpretes, cujas acções parecem deslizar entre o ócio — (não) fazer nada de especial — e o já referido síndroma de Bartebly, na fórmula ‘Prefiro não o fazer’ usada repetidamente pelo protagonista no livro “Bartleby, O Escrivão” (Herman Melville).
4
Entre o ócio e a potência de tudo poder fazer mas optar por não fazer, existe um território comum que é a própria experiência do pensamento e da vontade, e da sua contrapartida que é normalmente aceite como o agir, o fazer. Do ponto de vista do senso comum, esta suspensão (‘epoché’) deliberada é considerada absurda e menosprezada, pois o imperativo do “produzir”, da “competitividade”, da “criatividade” ou da “inovação” é suficientemente colonizador para confortar as mentes do negócio.
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